quarta-feira, 1 de abril de 2009

REFLEXÕES EM FREIRE II

Paulo Freire, em linhas gerais, usa um discurso pedagógico que revela a realidade em que vivem os dominados, ou seja, em seu estado de mais completa subserviência e inação diante dos discursos ideológicos, e da manipulação descarada dos dominadores perpetuando o seu status quo numa sociedade de oprimidos e explorados.

Os discursos nessa sociedade dissonante e moldada por entraves sócio-culturais não resolvidos esbarram numa problemática canhestra e ao mesmo tempo sórdida que mascara intenções e maquia os verdadeiros interesses por trás dos propósitos institucionais vigentes. Diante deste quadro de prestidigitação e engodo erguido e insuflado pelos detentores do suposto ‘saber’, levantam-se vozes firmes, quase proféticas, para levantar a mão corajosamente e dizer na cara dos falastrões dessa elite hipócrita que a educação só é possível quando destituída de pressupostos de raça, de posição, de estirpe, de elitismos, etc. Porque o saber se dá e se processa em comunhão e no reconhecimento de que todos fazem parte de uma fraternidade, de uma confraria de destituídos de si mesmos, de sonhadores libertários.

Um dos primeiros aspectos da dominação perpetrados pelos homens sobre os outros homens se inicia na domesticação das mentalidades com o único propósito de anular a própria vontade do individuo de querer a mudança para si mesmo. Os mecanismos usados para tal empreitada encontram-se disfarçados no falso discurso que pressupõe que o ato de criticar ou se opor a determinado sistema de idéias estabelecido é uma subversão, um levante sedicioso ao poder vigente ou a autoridade vigente.

Este aspecto tão aviltante do controle exercido por uns sobre outros é perceptível na conjuntura dos tempos, sobretudo, em um sistema educacional que devido a sua caducidade e anacronismo, persiste em manter os indivíduos marionetizados e inteiramente à mercê de sua própria inabilidade para lidar com questões que envolvam certa criticidade ou pensamento de oposição diante do que não concordam.

A anulação das consciências através de maneirismos e estratagemas perfeitamente urdidos com um intuito de impedir que os homens pensem é um fato inegável corroborado pelos métodos de educar reprodutivistas e pela ação daqueles que, julgando-se educadores, transportam seu habitus adquirido ao longo de todo o seu processo de ensino para criar uma geração de anencéfalos funcionais, que por não saberem pensar, tornam-se os idiotas úteis que mantém em funcionamento as engrenagens da involução cultural e do medo de se colocar como indivíduo que faz e que é em um sentido mais amplo de existir como pessoa humana.

Este existir em seu sentido mais lato só acontece quando não se tem medo da liberdade, de dizer o que se pensa, ainda que este pensamento deixe chocados a muitos e atraia a intransigência de outros por seu radicalismo e contundência. Para Paulo Freire, ser crítico é não ter medo da liberdade, mas sim posicionar-se com consciência diante dos grandes desafios que estão diante de nós.

Para ele a conscientização, diferente do que pensam os arautos do não pensar, é o caminho que conduz a libertação dos extremismos e fundamentalismos exacerbados. Quanto mais conscienciosos são os homens, quanto menos ufanistas e fanáticos serão. Freire ( 1987, p12) declara: “Na verdade, porém, não é a conscientização que pode levar o povo à “fanatismos destrutivos”. Pelo contrário, a conscientização, que lhe possibilita inserir-se no processo histórico, como sujeito, evita os fanatismos e o inscreve na busca de sua afirmação”.
FLEIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.17 .ed.Rio de Janeiro, Paz e Terra,1987.

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